Eu sou uma daquelas ranhosas que não perde uma oportunidade de malhar na SATA, mas hoje olhei para o homem, dentro deste avião de onde vos escrevo, e disse-lhe, a meio de uma epifania:
– Está tudo terminado entre nós. Eu amo esta senhora. De verdades.
(Ele riu-se. Nunca me leva a sério.)
Esta senhora de quem eu lhe falava era a hospedeira/ comissária de bordo/ não sei como se chama ao certo a função da menina.
Colegas de profissão da senhora, é preciso ter muito cuidadinho com ela… É que ela põe a vossa fasquia altíssima!
Tudo começou quando eu estava a entrar no avião e ela inclinou a cabeça para me dar as boas-vindas e perguntar se eu estava bem-disposta. Mas foi aquele inclinar de cabeça de quem nos conhece e se importa verdadeiramente com a resposta, sabem? Ora, a verdade é que eu nunca dantes vira a senhora na minha vida, pelo que só pude deduzir que ela é muito empática. Ou então muito profissional. Ou ambas. De qualquer das formas, é tudo de bom! E o homem diz que ela também o cumprimentou à entrada de forma muito sentida.
Logo a seguir, ainda introduziu um momento de humor na altura em que se dirigiu aos passageiros que viajavam junto às saídas de emergência e fez todo o avião rir. Até agora, já a temos como empática, boa profissional e bem-disposta. Diz o homem:
– Esta menina vai chegar a chefe.
Quando já estava sentada no meu lugar, toda de banda, como o Miranda, derramada meio por cima do homem, meio pelo assento abaixo, ela perguntou-me novamente se eu estava bem. Eu fiz-lhe o meu sorriso número 32, disse-lhe que sim, mas ela insistiu, que eu estava pálida, se queria uma aguinha. E trouxe-me a aguinha. É mesmo um amor, a mocinha. Portanto, além de empática, simpática, boa profissional e bem-disposta, ficámos a saber que a senhora tem ascendência de polígrafo porque, na verdade, conseguiu perceber que eu estava era bem podrinha.
(Estou grávida faz amanhã 8 meses e sinto-me também feita num 8. E, já agora, o meu corpo parece também um 8 daqueles de cintura larga. É 8 a mais na vida de uma pessoa. Além de uma azia bravíssima, já me doem os mamilos (só um deles, estranhamente) por antecipação e eu estava para aqui agarrada à mama esquerda como se ela me fosse fugir, na tentativa de aquecer o mamilo dolorido.)
Agora há pouco, na escala em São Jorge, ela veio cá ao fundo do avião perguntar-me se eu estava mais bem-disposta. Oh… Uma pessoa fica deliciada com estas atenções! Eu disse ao homem:
– Esquece. Não tens hipótese. É esta mulher que eu quero para a minha vida.
O ordinário não se deixou ficar:
– Não seja por isso. Deixa-te estar, que eu fico com as duas e acho que não fico mal.
P.S.1 – Espiei a plaquinha com o nome da senhora e pareceu-me ler “Marlene Maiato”, mas não sei se vi bem.
P.S.2 – Sou capaz de enviar este texto para a SATA. Eles merecem saber que o seu processo de seleção de staff está on point, apuradíssimo.
(No mail para a SATA, talvez elimine a parte referente ao meu mamilo, que é capaz de ser demasiado gráfica para eles. Entre nós, eu e vocês, meus amigos que me leem por aqui, já percebemos que não existe isso de informação a mais, certo?)
História da passageira Fedra Miriam.