Aos que por cá passaram

Livro de Honra, presente na Camara Municipal da Vila do Corvo.

A pista do Corvo parecia não ter segredos para ele. Quem o conheceu diz ter sido um exímio contador de histórias e alguém que espalhava alegria por onde passava. Era Gil Pinto de Sousa: o Comandante Gil, como ficou conhecido na SATA Air Açores.

O dia na Ilha de São Jorge estava invernoso. Chuva, vento forte, céu cinzento. Um dia de inverno tristonho com um apontamento feliz: Gil Pinto de Sousa fazia anos!

 “O Comandante Gil era uma pessoa muito querida nas escalas por onde passava. Tinha um temperamento muito afável, sempre bem-disposto. Não tinha muitos anos de SATA, mas conseguiu criar amizade por onde passou” recorda   Lúcia Brasil, chefe de escala no Aeródromo de São Jorge.  

“Nesse dia, eu estava na torre, e sabia uma coisa que o Comandante Gil ignorava: que havia um bolo de aniversário à sua espera! Como habitualmente, ia acompanhando o voo ao minuto. Desta vez, insisti que desse mais uma volta na aproximação à Ilha. Cá em baixo, rezava para que a nuvem que pairava sobre a pista se dissipasse. “Eu não sabia mais do que ele, claro, mas esperava que o tempo jogasse a nosso favor “.

Quem voa e quem cuida da operação aérea da SATA Air Açores, sabe. O tempo tem os seus caprichos. Por vezes bastam dez minutos e o vento leva a nuvem e a pista fica a descoberto.  E foi o que aconteceu. 

A nuvem dissipou-se, o Comandante apontou à pista e aterrou o pequeno Dornier 228. Passageiros desembarcados,  missão cumprida e o Comandante Gil, depois de sopradas as velas do bolo, terá retomado a jornada de trabalho com a alma muito cheia de bons sentimentos.

O Comandante “Gilinho” como era carinhosamente chamado na Ilha do Corvo, entrou ao serviço da SATA Air Açores em 1997. Antes foi piloto da Força Aérea Portuguesa e, nestas circunstancias, fez comissões na guerra do Ultramar e mais tarde, alistou-se em defesa de outras causas.  O seu temperamento empurrou-o para missões difíceis e para geografias inesperadas. A julgar pelos testemunhos que ainda hoje se podem reler, terá sido um aventureiro destemido e o companheiro de todos os momentos. 

Foto gentilmente cedida por Manuel Fialho, Comandante na SATA Air Açores.

Foi primeiro 2º oficial piloto e passou aos comandos do Dornier 228, em 1999. Tinha muita experiencia de voo, o que lhe valeu o epíteto de “especialista da pista do Corvo”. E se Lúcia Brasil recorda este colega especial que já partiu, o que dirão os passageiros do Corvo?

Á beira da reforma, tomado de surpresa, passageiros Corvinos levaram o Comandante Gil até à Câmara Municipal da Vila do Corvo para prestar-lhe uma homenagem. Quem lá esteve, atesta que pouco faltou para levarem o homem em ombros. Acompanhado pelo Presidente da Câmara, Gil Pinto de Sousa foi acolhido com honras e reconheceu os passageiros que, ao longo dos vários anos, voaram com ele. No livro de honra, deixou um registo de humildade e um agradecimento ao gesto de bondade e de reconhecimento da comunidade corvina. 

Eis mais uma história capaz de nos fazer relembrar o quanto é especial, na sua geografia e na sua beleza, este lugar único chamado Açores; o quanto é afetuoso o seu povo; e quão especial é, afinal, a relação de cumplicidade entre a  companhia aérea que serve o Arquipélago e os seus passageiros.  

3 Comments Add yours

  1. Anónimo diz:

    Parabéns SATA ! Bons voos!

  2. Weber Eduardo Borges diz:

    Parabéns, SATA! Bons voos!

  3. Obrigado! Será uma honra tê-lo a bordo dos nossos voos.

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