Uma viagem no tempo

Foi finalmente dado início a um projeto há muito aguardado no Grupo SATA.

A entrega em mãos do acervo documental das empresas do Grupo SATA à Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.  Não haveria melhor destino para esta história que soma, em agosto 2021, 80 anos de vida.

Um dia após a assinatura do protocolo de cooperação entre o Grupo SATA e a Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada (BPARPD) os documentos que contam a história do Grupo SATA, guardados ao longo de gerações, começaram a ser transferidos para a sede do Arquivo Regional.

Tornou-se muito evidente para todos a importância deste passo para o presente mas, acima de tudo, para o futuro da nossa memória coletiva.

“Quem não cuida do seu passado não pode garantir nada de bom para o seu futuro” resumiu na ocasião Luís Rodrigues, Presidente do Grupo SATA antes de confiar à BPARPD o acervo documental das empresas que dirige. Foi mais do que uma ocasião simbólica: foi um momento relevante para a história da SATA e da aviação comercial nos Açores. 

Para que compreenda parte do significado que este passo tem para todos os que se esforçaram, ao longo de décadas, por manter viva a memória coletiva da companha aérea, siga-nos nesta curta viagem  e perceba melhor porque razão dizemos, com satisfação e reconhecimento que, agora sim, finalmente, a história da SATA encontrou o destino certo.

“SEM ARQUIVO, NÃO HÁ HISTÓRIA!”

A afirmação não é nossa, mas da professora catedrática Fátima Sequeira Dias que, em 1987, foi autora e responsável pela pesquisa necessária à edição da obra “Diário de Navegação, Edição Comemorativa do 50º aniversário do 1º voo comercial da SATA”. Um livro que conta os primeiros cinquenta anos de voos da SATA Air Açores e que para além de uma obra de caracter histórico é uma obra que apetece reler. Mas por entre as considerações da autora, e a respeito da importância de preservar os documentos ao longo dos anos, Fátima Sequeira Dias, deixou-nos uma mensagem:

“… É de louvar o esforço e o caminho a perseverança de quantos “esconderam”, guardaram e conservaram os ditos papéis velhos, supostamente sem valor, na tentativa de preservar a memória da SATA. Porque, sem arquivos, não há história”.

Anos mais tarde, Ermelindo Peixoto, Professor Catedrático da Universidade dos Açores, autor da obra comemorativa do 65º aniversário da SATA, voltou a tocar no assunto e confessou a dificuldade que sentiu ao procurar resgatar aos milhares de documentos guardados, a cronologia certa dos acontecimentos, por forma a dar continuidade à obra da sua antecessora:

“Tal como sucedera já em relação a um projeto anterior sobre a história da SATA, também nos deparámos com a impossibilidade de compulsar o acervo que compõe o designado arquivo morto da Empresa, diante da sua extensão e perante a inexistência de qualquer sistema de catalogação dos milhares de documentos existentes em armazém”.

Perante estes testemunhos, e considerando a extensão do arquivo, será fácil compreender o sentido de missão cumprida, ao saber que, doravante, a memória coletiva do Grupo SATA, que é nossa e de todos os Açorianos, terá agora tratamento adequado e estará, finalmente, mais acessível a todos os que a queiram consultar.

A 8 de junho de 2021, foi assinado na BPARPD o protocolo de cooperação entre o Grupo SATA e a BPARPD pela mão de Madalena San-Bento, Diretora da BPARPD e de Luís Rodrigues , Presidente do Grupo SATA.

Onde começa a nossa viagem?

A viagem tem como ponto de partida o edifício sede do Grupo SATA, aquele que acolhe as áreas administrativas do grupo empresarial. Ali e ao longo de gerações e de sucessivas administrações, foram sendo guardados os documentos considerados relevantes.

O local de conservação do arquivo nunca foi o mais adequado, mas era o possível;  

Os trabalhadores da SATA não eram técnicos arquivistas, mas ao longo de oito décadas fizeram o melhor que souberam.

A primeira etapa: escala técnica na câmara de expurgo

Pois bem, é graças aos que passaram e aos que continuam a cuidar das memórias do grupo SATA que foi possível chegar aos dias de hoje com milhares de documentos a transferir, por entre os quais um primeiro conjunto de 11 caixas que seguiram para a BPARPD na manhã do dia 9 de junho de 2021.
A esta operação, vamos chamar (usando a gíria da aviação) uma escala técnica, mas que para os técnicos arquivistas da BPARPD trata-se de uma estadia em câmara de expurgo. É para lá que serão transferidos os documentos e é aqui que vão repousar durante, aproximadamente, 3 semanas. Trata-se de câmara selada, onde a descontaminação acontece por um processo de anoxia.

E depois da longa estadia …

Os documentos são entregues aos técnicos de arquivo e de restauro; arquivistas e conservadores. Aqui são tratados com cuidado e carinho. São limpos de pó e analisados com minúcia. A erosão do tempo não perdoa: a humidade, os micro-organismos, os fungos, os insetos provocam a deterioração do papel. Nalguns casos será necessário proceder ao restauro. Por exemplo, os couros e os pergaminhos enrugam com o tempo e rasgam-se; os papéis podem reduzir-se a pó e as tintas podem carecer de restauro na intensidade e cor. É um trabalho técnico que exige conhecimento e devoção. Não é para todos nem para qualquer um, e está agora nas mãos treinadas dos técnicos qualificados da BPARPD.   

Analisar, perceber e classificar

Se o objetivo é tornar acessível à consulta pública este acervo, então a descrição dos documentos é um passo muito relevante. A triagem é feita por ano e por tipo de documento. Para saber como descrever é necessário conhecer o conteúdo. É mais um trabalho de minúcia e de persistência. Requer paciência, conhecimento e tempo. São mais de sessenta anos de documentos, livros, relatórios, atas, cadernetas de voos, relatórios, e muito mais. Classificar o tipo, a data e a localização será determinante.  

Como teriam sido felizes Fátima Sequeira Dias e Ermelindo Peixoto, se tivessem tido a oportunidade de preparar, nestas condições, as obras que fizeram nascer com tanta persistência, estes dois volumes históricos que nos deixaram para a posteridade. Que felicidade para outros historiadores, estudantes, amantes da aviação e da história dos Açores, saber que, doravante, poderão ter acesso mais fácil a tanta história.

Preservar para mais tarde partilhar com a comunidade: é este o objetivo.

É a mais viva e fidedigna memória da história da aviação civil do Arquipélago dos Açores e, por isso, trata-se de um arquivo de inexcedível interesse para a história dos Açores. “Este imenso testemunho da importância dos Açores como escala para as aeronaves de todo o mundo na travessia do Atlântico no séc. XX, assim como todas as implicações para a memória coletiva que o acervo da companhia, composto pelos mais diversos documentos, doravante poderá trazer, justifica o empenho absoluto da BPARPD nesta tarefa” referiu na cerimónia de assinatura do protocolo, Madalena San-Bento, Diretora da BPARPD. E é apenas porque existem vontades e determinação como esta que chegamos até aqui. Sem arquivo não há história, é certo; e sem o empenho de quem faz por preservá-lo, não há memória coletiva que sobreviva à passagem do tempo. 

Destino final: No cimo da torre de arquivo, o mais perto possível do céu!

O acervo documental do Grupo SATA vai repousar no último andar da torre de sete andares da BPARPD.  Ninguém diria que dissimulada no interior do antigo Colégio dos Jesuítas, em Ponta Delgada, emerge uma torre de construção recente, discreta e quase impercetível ao olhar dos transeuntes, que acolhe uma parte muito significativa da história do Arquipélago dos Açores.

Não muito longe das prateleiras que vão acondicionar o acervo da SATA, encontram-se as memórias guardadas de extraordinários contributos. Teófilo Braga, José do Canto; Ernesto do Canto; o conselheiro régio Hintze Ribeiro; Antero de Quental, Natália Correia, entre tantos outros nomes incontornáveis, num conjunto de documentos absolutamente incrível. Perante esta realidade tão rica, tão diversa e tão distinta, não haveria, por certo, destino mais adequado para o acervo documental do Grupo SATA.

2 Comments Add yours

  1. José Sousa diz:

    A história da SATA é muito a história das nossas vidas!
    Obrigado pelo cuidado na preservação de todo o acervo documental da companhia ao longo dos anos e pelo seu acondicionamento em lugar adequado como é de facto a BPARPD
    José de Sousa

  2. Obrigado nós pelas suas palavras!

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