Paixão pela fotografia

André Frias é Técnico de Negociação e Gestão de Stocks, na Direção de Handling do Grupo SATA, e dedica todas as suas horas livres à sua grande paixão, a fotografia.

Já fotografou grandes eventos como o Rock in Rio e o Azores Airlines Rallye (AAR) e tem como sonho fotografar os eventos Burning Man e o melhor Carnaval do mundo.

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Como surgiu o seu interesse pela fotografia?

É uma paixão que tenho desde miúdo. No entanto, só se desenvolveu com o aparecimento dos equipamentos digitais, que acabaram por simplificar o processo de aprendizagem desta arte. Na fotografia analógica, tinha de esperar muitos dias ou mesmo semanas para poder ver o fruto do meu trabalho. Nos últimos 15 anos, devo ter mais de meio milhão de “disparos”, números impossíveis de alcançar no analógico por um “amador”.

Que equipamentos fotográficos usa com maior regularidade?

A “rainha” das máquinas lá em casa é a NIKON D3s, que em 2009 foi a escolha da NASA para equipar a Estação Espacial Internacional e que continua a ser um equipamento muito fiável.

Habitualmente, uso 2 corpos (D3s e D500) e 3 lentes (15-30 f2.8; 85 f1.4; 120-300 f2.8), mas tudo depende do tipo de trabalho a fotografar.

O que o levou a fotografar eventos?

Começou em 1996, quando fiz parte de uma banda de metal, que acabou por abrir algumas portas para o mundo do espetáculo. Acabei por ficar fascinado com tudo o que está por detrás das produções e comecei a registar alguns destes momentos para recordar mais tarde com os amigos. Rapidamente começaram a surgir pedidos de fotos por parte das bandas regionais e, quando dei por mim, também já tinham algumas nacionais a perguntar como poderiam ter acesso a estas fotografias. Estamos a falar numa altura em que ainda reinavam as “Zine-Letters”, produzidas em casa e fotocopiadas para serem distribuídas localmente e, em alguns casos, enviadas por correio para todo o mundo. Ganhei coragem e, em 2002, adquiri o meu primeiro equipamento fotográfico (Fuji S5000).

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Qual foi o evento que mais gostou de fotografar?

São vários os eventos e difíceis de escolher (…) certamente que o Rock in Rio e o Azores Airlines Rallye (AAR) estão no topo. O primeiro, pelo nível de artistas e condições técnicas que são oferecidas a quem precisa de fazer bons “bonecos”. No caso do AAR, pelos mais de 25 anos que estou ligado aos ralis regionais e por ter acompanhado a ascensão do “Rali dos Açores” ao panorama internacional. É engraçado ver na TV alguns dos pilotos da nova geração do WRC e ter tido o prazer de conhecer pessoalmente alguns deles, quando passaram por São Miguel no ERC, e saber que gostaram das minhas fotos.

F: André Frias (c) ContraTempo.com

Recorda alguma situação engraçada que tenha acontecido enquanto fotografava?

(…) Sim, existem momentos que não esqueço, tipo estar num evento de moda, a morrer de calor com as luzes e secadores no backstage e, de repente, sentir um ar fresco projetado na minha direção… e quando olho, era só a Merche Romero a refrescar-me. (risos)

Consegue aproveitar os eventos em que participou ou está lá apenas por trabalho?

São muito poucos os eventos que são só “trabalho” e, com o passar dos anos, acaba por haver uma seleção natural nos eventos que quero fotografar.

F: André Frias (c) ContraTempo.com

Trabalha sozinho ou com uma equipa?

Comecei sozinho e assim cresci e aprendi muito. Entretanto, hoje somos uma equipa de 3 elementos, que é reforçada, dependendo da dimensão/duração do projeto que tivermos entre mãos.

Como é para si uma foto perfeita?

A foto perfeita é quando imaginamos/preparamos “aquele momento” e depois o “click” é realizado no timing perfeito. Claro que é preciso ter também sorte para que se consiga esta comunhão de fatores.

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Qual foi a foto que mais o marcou?

Provavelmente aquando das comemorações do 50º Aniversário da Força Aérea Portuguesa, estar no sitio certo/restrito e conseguir enquadrar a aterragem dos paraquedistas com o restante cenário de “guerra”, que foi simulado no aeroporto de Ponta Delgada.

Com o desenvolvimento das fotografias digitais (ex. telemóveis), surge uma nova geração de fotógrafos. Isso motiva-o a fazer a diferença?

A evolução da tecnologia tem facilitado muito a vida dos fotógrafos, quer sejam profissionais quer sejam amadores. A concorrência nunca fez mal a ninguém e motiva-nos a procurar fazer melhor. O que chateia são aqueles que chegaram agora e não conseguem perceber que, em algumas situações, “a idade é um posto”. É normal que quem já está há algum tempo nesta área, tenha alguns privilégios, fruto do trabalho de muitos anos.

Como surgiu a ideia de criar o site Contratempo?

Basicamente começou como um site/galeria de fotografias que, durante alguns anos, foi a ponte de ligação entre muitos açorianos que viviam no continente ou no estrangeiro e que, através do site, iam acompanhando os eventos realizados por cá. Percebi que havia um vazio muito grande entre o que se passava nos Açores/São Miguel e o Continente, porque durante os anos que estive a estudar em Lisboa, ficava completamente isolado de tudo o que acontecia por cá. Só havia um update nas férias.

DSC_3807_Happy Holi Acores 2014

Para além do site Contratempo, está também em redes sociais? Qual a melhor rede para investir nessa área?

Naquilo que desenvolvo em fotografia, o Facebook e o Instagram são as redes preferenciais para promover os trabalhos/eventos que cobrimos, porque a faixa etária dos nossos clientes utiliza mais o Facebook. No entanto, o nosso futuro são os jovens que consomem maioritariamente o Instagram. Também é importante ter o Youtube para o público em geral e o Vimeo para os clientes com requisitos mais específicos/técnicos. Também estou no Spotify para ir percebendo as novas tendências.

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Um evento que gostasse de fotografar?

Gostaria de fotografar o Burning Man. É um evento realizado anualmente em Black Rock Desert, desde 1986, onde, durante 4 dias, 50 mil pessoas participam num experimento social colaborativo e de comunidade, recheado de arte, criada pelos próprios participantes/voluntários do festival. Também gostava de poder estar oficialmente no Sambódromo, no Carnaval do Rio de Janeiro, e fotografar o melhor Carnaval do mundo. Já tive a oportunidade de fotografar os ensaios de uma escola em São Paulo, mas a dimensão e a produção no Rio de Janeiro é de outro mundo.

Quais são as primeiras perguntas que faz quando vai trabalhar com um novo cliente/projeto?

Estão sempre dependentes do tipo de projeto a realizar, mas basicamente tento perceber qual a finalidade das fotografias, por exemplo, se é necessário fazer um booking para um artista. As fotos para publicar nas redes sociais não podem ser realizadas da mesma forma que são feitas para cartazes de promoção de um disco ou evento.

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Para além de fotografar eventos, gosta de fotografar outras coisas?

Sim, além da paixão pelos eventos, sejam sociais ou desportivos, gosto bastante de fazer fotografia de comida e retrato. No entanto, não são dos temas que tenha muito arquivo, pois tenho mais fotografias com o telemóvel do que com a máquina.

F: André Frias (c) ContraTempo.com

Para onde é que a indústria da fotografia está a ir?

É uma indústria que se transforma a cada dia que passa. Há poucos dias, a Google anunciou que o seu serviço “Google Fotos” já permite criar/imprimir álbuns automáticos das imagens captadas no telemóvel, para além de sincronizadas/guardadas automaticamente na “nuvem”, possibilitando, inclusive, a partilha de galerias conjuntas de vários utilizadores. Isto, há 10 anos atrás, era praticamente só possível nos filmes de ficção científica.

Na sua opinião, um fotógrafo deveria especializar-se num único campo ou não?

É praticamente impossível ser bom em todas as áreas, porque a fotografia não é só uma questão de técnica. É importante conhecer e perceber os temas que se fotografam. Alguém que goste de fotografia de ação, dificilmente tem paciência para ficar 4 ou 5 horas quieto e imóvel à espera para fazer “aquela fotografia de natureza”. Outro problema na polivalência é que implica um maior investimento de material. O material para fotografar surf não é o mesmo que se utiliza para fazer fotos de moda ou comida.

Que tendências os fotógrafos deveriam abandonar e quais deveriam adotar?

Uma boa parte dos fotógrafos devia primeiro esgotar/aprender o material que possui, em vez de preocupar-se em não conseguir fazer o trabalho, porque não têm o último modelo. É preciso conhecer as nossas ferramentas!

Qual é o seu melhor conselho para um novo fotógrafo?

Penso que é importante sermos humildes naquilo que fazemos. Temos de ganhar o respeito dos outros pelo nosso trabalho e não pela postura.

F: André Frias (c) ContraTempo.com