SATA: Um fenómeno de longevidade no transporte aéreo comercial

Com 82 anos de existência enquanto Sociedade de Estudos e cerca de 76 como Sociedade Comercial (LDA, SARL, SGPS), a longevidade da SATA explica-se, paradoxalmente, pelas peculiaridades da sua operação: difícil, temperada pelos rigores do clima e tendencialmente deficitária, mas imprescindível ao quotidiano dos açorianos – logo um instrumento ao serviço da Autonomia e um atributo imprescindível ao fortalecimento do conceito de açorianidade.

As condições de exploração das rotas operadas pela SATA com vértice em Santana (SMG/LPML) explicam as dificuldades com que ali se deparavam, frequentemente, tripulantes e passageiros em condições METEO menos favoráveis, pese embora a excelência dos alternantes disponíveis: Santa Maria (SMA/LPAZ) e Lajes (TER/LPLA). 

Na verdade, a companhia pagava em desgaste de material, e sem contrapartidas ao nível de subvenções ou isenções, o abandono a que a infraestrutura mencionada em primeiro lugar fora votada (apesar de elevada à dignidade de aeroporto, em 1949).

Em SMG, utilizavam-se então duas de três pistas de terra batida ali existentes. Os aviões conviviam com as vacas e ovelhas que pastavam junto às mesmas e as ajudas de rádio dependiam de um único NDB (Non Directional Beacon). 

Nos dias de menor visibilidade, as descidas eram efetuadas sobre o mar, perpendicularmente à pista de serviço. E, na perfuração, utilizava-se o cronómetro para calcular o MAP (Missed Approach Point).

Nesses dias, os radiotelegrafistas (nos DOVE) e os copilotos, mais tarde (nos DAKOTA), abriam, frequentemente, a janela lateral do cockpit em voo e, espreitando para o exterior, gritavam para o comandante que estavam a ver a torre da igreja da Ribeira Seca e, depois, a estrada e o morro de Rabo de Peixe (qual via férrea para Bulawayo), até que aquele estabelecesse contato visual com a cabeceira da pista 24 e tomasse a decisão de aterrar.

Logo, os rigores do clima condicionavam a regularidade dos transportes (marítimos, mas também aéreos),  constituindo um dos sinais distintivos da insularidade e um atributo da açorianidade, associada à condição de Ilhéu. Assim era em Santana (SMG), base operacional da SATA, até 1969, e assim é em alguns aeroportos e aeródromos dos Açores cujas limitações operacionais originam, ainda, perturbações no funcionamento normal do tráfego aéreo. 

Ermelindo Peixoto (PhD) – Autor do livro comemorativo dos 65 anos da SATA

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