Os Açores estão um pouco por todo o mundo. Isto sente-se quando se viaja e quando se constata que, em quase todas as famílias açorianas, existem histórias de emigração para variadíssimas partes do planeta. Dependendo do contexto histórico em que se encontravam, e mesmo na atualidade, muitos açorianos desejaram escapar à insularidade, procurar novas oportunidades ou melhorar a sua saúde financeira, batendo asas rumo a outras paragens.
Nesta primeira edição da nova rúbrica “Os Açores no mundo”, dedicamos a nossa especial atenção aos açorianos que escolheram o sul do Brasil como a sua nova casa.

A presença açoriana, ainda hoje bem demarcada no sul do Brasil, é capaz de impressionar qualquer visitante. Aquelas gentes, que, na verdade, até falam português, exibem um orgulho imenso nas suas raízes açorianas e fazem questão de manter as tradições dos seus antepassados bem vivas na sua memória e nas suas vivências.
A emigração açoriana para o Brasil está ligada ao projeto colonial português de efetivar a territorialização do Brasil, numa altura em que várias nações tentavam contrariar os limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas, e teve início, no início do século XVIII, com os primeiros casais açorianos que se instalaram, com apoio lusitano, em áreas consideradas estratégicas. Estes casais, na sua maioria provenientes das ilhas Terceira, Graciosa, São Jorge e Faial, procuravam melhores condições de vida face à pobreza que se sentia então nos Açores e no seguimento dos eventos sismográficos que frequentemente ocorriam nos Açores.

Chegados ao Brasil, os migrantes açorianos ocuparam terras sobretudo em Santa Catarina e em Porto Alegre (cidade que já foi chamada de Porto dos Casais, em alusão aos casais açorianos que ali desembarcaram), um fenómeno que teve continuidade durante o século XVIII.
Atualmente, no centro de Porto Alegre, existe o “Monumento aos Casais Açorianos”, esculpido por Carlos Gustavo Tenius, homenageando os sessenta primeiros casais que desembarcaram na cidade e que fixaram raízes culturais profundas, ainda hoje bastante visíveis.
Em agosto de 1996, foi ainda construído o “Monumento ao Povoamento Açoriano”, em Santa Catarina, que tem o objetivo de homenagear o povo açoriano de aquém e além-mar pela contribuição para a história e para a cultura Catarinense.





Mas não só de monumentos vive a alma açoriana no sul do Brasil. A alma açoriana neste lugar tão distante, mas ao mesmo tempo tão próximo, vive-se na recriação das festas em honra do Divino Espírito Santo, na arquitetura, no folclore, nas relíquias orgulhosamente expostas e passadas de geração em geração, nos estudos e eventos que decorrem continuamente nas universidades. Existe uma autêntica interculturalidade que é cultivada e vivida de uma forma que vale a pena ser vista.