Dia Mundial da Conservação da Natureza – Entrevista à Diretora Regional do Ambiente e Alterações Climáticas – Ana Cristina Pereira Rodrigues

O Grupo SATA, com sede e berço no arquipélago dos Açores, tem como prioridade, não só tornar-se uma organização cada vez mais sustentável, como contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável das nossas ilhas.
Neste contexto, no Dia Mundial da Conservação da Natureza, falámos com a Diretora Regional do Ambiente e Alterações Climáticas, para melhor podermos perceber e divulgar a necessidade de proteção da natureza dos Açores e de que forma podemos contribuir para esta nobre e urgente missão coletiva.

Venha connosco conhecer projetos e ações que podem fazer a diferença no legado que deixaremos às gerações futuras.

“Fazer a correta separação dos materiais recicláveis deixou de ser uma opção. Na verdade, é uma obrigação de todos enquanto agentes económicos e cidadãos responsáveis e preocupados com o planeta em que vivemos.”

“As empresas devem assumir a responsabilidade de assegurar uma utilização eficiente dos recursos naturais, aumentando a eficiência na sua utilização e promovendo uma economia mais circular, em detrimento de uma economia linear, onde se promova a redução, reutilização, a reciclagem, diminuindo os seus impactes negativos no ambiente, e envolvendo colaboradores, fornecedores, clientes e a comunidade em geral.”

Qual é o foco de atuação da Direção Regional do Ambiente e Alterações Climáticas?

A Direção Regional do Ambiente e Alterações Climáticas assegura uma estratégia de desenvolvimento sustentável dos Açores que visa promover um equilíbrio entre o desenvolvimento social e económico, a proteção da qualidade ambiental e a gestão dos recursos naturais, através de instrumentos robustos de proteção da qualidade ambiental, da conservação da natureza, da gestão dos recursos hídricos e de um eficiente ordenamento do território e proteção das populações.

A Direção encontra-se muito focada nos desafios impostos pelas alterações climáticas, dinamizando ações de mitigação e adaptação às alterações climáticas na Região.

Além disso, promovemos uma economia circular em detrimento de uma economia linear, apostando na prevenção de produção de resíduos e no aproveitamento dos resíduos como um recurso, dando continuidade ao ciclo de vida dos materiais e devolvendo materiais e energia à economia.


2) Quais são as vossas principais preocupações em relação ao arquipélago dos Açores?

A perda de biodiversidade por fatores humanos, quer sejam eles as emissões de gases com efeito de estufa, a invasão e destruição de habitats, a poluição (sonora, luminosa, do ar e material – resíduos), a sobre-exploração ou a introdução e proliferação de espécies invasoras.

Os efeitos das alterações climáticas nos diversos setores (agricultura, mar, floresta, energia, transportes, ordenamento do território e a proteção das zonas costeiras, entre outros), com particular enfoque no risco para as pessoas e para a perda dos seus bens, em áreas mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas, dos quais são exemplos os eventos climáticos extremos (tempestades, inundações, …), também se encontram no topo das nossas preocupações.

3) Que projetos estão em curso no âmbito da conservação da natureza dos Açores?

A Secretaria Regional do Ambiente e Alterações Climáticas tem diversos projetos em curso dedicados à conservação da Natureza, cofinanciados pelo Programa LIFE, tais como o LIFE IP AZORES NATURA, o LIFE VIDALIA, o LIFE BEETLES e o LIFE SNAILS, e que conta com a participação da Direção Regional do Ambiente e Alterações Climáticas.

Entre muitos outros projetos, temos o projeto LIFE IP AZORES NATURA que abrange 24 ZEC’s (Zonas Especiais de Conservação), 15 ZPE’s (Zonas de Proteção Especial) e 2 SIC’s (Sítios de Importância Comunitária) da Rede Natura 2000 nos Açores, que procura contribuir de forma significativa para a conservação de espécies e habitats protegidos pelas Diretivas Habitats e Aves que fundamentam a sua designação.

Temos também o sistema de depósito de embalagens não reutilizáveis de bebidas, em funcionamento em todas as ilhas dos Açores, com pelo menos uma máquina de logística reversa por cada concelho, financiado pelo REACT-EU, onde se podem depositar embalagens de bebida não reutilizáveis de plástico, vidro ou metal, com a dotação de um prémio de 5 cêntimos por cada embalagem depositada, e que está a ter uma adesão extraordinária.

Destacamos também a medida para a redução do consumo de sacos de plástico que induziu uma mudança substancial nos hábitos dos consumidores da RAA, promovendo a substituição dos sacos de plástico descartáveis por meios alternativos e reutilizáveis, que levaram a que, nos Açores, entre 2016 e 2020, tenham sido distribuídos menos 300 milhões de sacos de plástico no comércio a retalho, retirando do consumo cerca de 2.000 toneladas de plástico.

Estamos, ainda, a implementar o projeto LIFE IP CLIMAZ, cofinanciado pelo Programa LIFE, que tem como objetivo contribuir para a implementação do Programa Regional para as Alterações Climáticas (PRAC), com ações de mitigação e adaptação às alterações climáticas em diversos setores da economia; e a elaborar o Roteiro para a Neutralidade Carbónica, financiado pelo REACT-EU, que virá contribuir para preparar a Região no sentido de atingir a neutralidade carbónica em 2050.

4) De que forma se faz a sensibilização das populações para a necessidade de preservar a natureza?

Temos os Centros Ambientais, estruturas da Secretaria Regional do Ambiente e Alterações Climáticas, que contribuem para promover o conhecimento e a conservação de áreas protegidas, paisagens, habitats, geossítios, espécies notáveis ou outros elementos de interesse ambiental, estando estruturados como espaços de interpretação e, em alguns casos, de apoio à visitação. Estes Centros Ambientais são dotados de exposições e informação especializada sobre os valores naturais, onde é promovida a visitação nas áreas onde esses valores tenham particular expressão. Além disso, desenvolvemos diversas atividades com crianças, quer seja nos Parques Naturais dos Açores, nos Centros Ambientais ou mesmo nos Centros de Reabilitação de Aves Selvagens (CERAS).

Através de programas específicos, como o EcoEscola, a Secretaria Regional do Ambiente e Alterações Climáticas, pretende chegar às crianças e camadas mais jovens da população, que além de apreenderem facilmente novos conceitos e de os adotarem, são também um excelente vetor de disseminação da informação para os seus familiares.

No âmbito de cada projeto LIFE, desenvolvemos ações de capacitação, de sensibilização e de trocas de experiências de forma a incrementar o conhecimento das diversas entidades envolvidas nos projetos e do público em geral.

Já no âmbito dos operadores económicos, desenvolvemos diversas sessões de esclarecimento, de forma a dotar os mesmos de conhecimento atualizado relativamente às obrigações decorrentes das atualizações da legislação.

5) Qual a importância de um turismo cada vez mais sustentável?

Um turismo sustentável é aquele que satisfaz as necessidades dos turistas, sem prejudicar o ambiente e as comunidades envolventes. A ideia inerente a um turismo sustentável é salvaguardar recursos e garantir o desenvolvimento económico das regiões, sem comprometer as oportunidades e o futuro de gerações vindouras. Assim, quanto maior a sustentabilidade do setor turístico, maiores os benefícios para as regiões, quer seja a nível ambiental, social ou económico.

Só com um turismo sustentável, poderemos contribuir para manter ou melhorar os padrões da qualidade de vida dos açorianos.

6) De que forma se promove um turismo cada vez mais sustentável?

Julgo que para termos um Turismo sustentável, é necessário promover o respeito pela conservação da natureza; promover a adoção de medidas de redução de emissões de gases com efeito de estufa e a eficiência energética nas unidades hoteleiras e de restauração; promover tanto quanto possível a mobilidade elétrica; promover a utilização de meios de transporte públicos; bem como promover o consumo eficiente de água. A par de tudo isso, é também importante consciencializar os turistas e operadores turísticos para a importância de reduzirem a sua pegada ecológica. Só assim, poderemos ter um turismo cada vez mais sustentável.

7) Qual o papel das empresas na preservação da natureza?

As empresas devem assumir a responsabilidade de assegurar uma utilização eficiente dos recursos naturais, aumentando a eficiência na sua utilização e promovendo uma economia mais circular, em detrimento de uma economia linear, onde se promova a redução, reutilização, a reciclagem, diminuindo os seus impactes negativos no ambiente, e envolvendo colaboradores, fornecedores, clientes e a comunidade em geral.

Por exemplo: no setor das compras, dar prioridade a produtos que sejam mais duráveis, de melhor qualidade, recicláveis ou que possam ser reutilizados, evitando produtos descartáveis e dando prioridade a produtos que gerem menos resíduos; no setor da aquisição de serviços, recorrendo a produtos e serviços ecológicos; ao projetar novos produtos ou novas embalagens, preconizar a sua reutilização ou reciclagem; com os clientes, prever uma assistência pós-venda que oriente o cliente a usar corretamente o produto da forma mais eficiente e que gere menos resíduos;  fazer um consumo eficiente da água e da energia e dar prioridade à utilização de fontes de energia renováveis ou  fazer uma gestão eficiente e adequada dos resíduos.

8) O que pode fazer cada um de nós para ajudar a preservar os recursos naturais do nosso arquipélago?

Todos nós podemos apostar num consumo consciente, evitando impactes negativos para a sociedade e para o meio ambiente, em que o ato de consumir seja efetuado numa lógica de cidadania, procurando adquirir produtos amigos do ambiente ou de comércio justo e valorizando as práticas de responsabilidade ambiental e social das empresas.

Existem diversas opções, claramente mais amigas do ambiente, que cada um de nós pode adotar, e que representam uma mais valia para o nosso ambiente, o que naturalmente se reflete na melhoria da qualidade de vida das populações:

– Aquisição de produtos mais duráveis e de melhor qualidade, recicláveis ou que possam ser reutilizados, evitando produtos descartáveis e dando prioridade a produtos que gerem menos resíduos, de forma a contribuir para uma economia menos linear e mais circular.

– Fazer um consumo eficiente da água e da energia nas nossas casas.

– Privilegiar o uso de transportes públicos, aderir à mobilidade elétrica e/ou partilhada, usar meios de transporte de mobilidade suave (bicicleta) ou ainda andar a pé, sempre que possível (ajuda o ambiente e contribui para melhoria da nossa saúde).

– Fazer uma separação adequada dos resíduos e encaminhá-los para os locais adequados.

– Reutilizar sobras de comida e fazer o planeamento das compras de acordo com o que necessitamos.

Sabemos que há um grande caminho a percorrer, e que todos temos o direito ao ambiente e à qualidade de vida, mas também o dever de contribuir para que assim seja.

Deixe o seu comentário | Leave a reply