Açores – Mais do que um território é um sentimento

O arquipélago dos Açores, com as suas nove ilhas, está a meio caminho entre o Continente Americano e a Europa. Mais do que uma posição estratégica, os Açores são um local de sentimentos e inspiração, onde o real pode muito facilmente encontrar-se com o místico. Venha descobrir-nos.

O número mágico é o 9, mas deixemos a numerologia para quem nela acredita. Vamos aos factos: são nove as ilhas do Açores, cada uma possuidora da sua personalidade e história, mas todas parte de um destino e território comum.

Para quem visita esta parte do mundo pela primeira vez, explique-se que o arquipélago dos Açores está dividido em três grupos: Central, Oriental e Ocidental. No grupo Central estão cinco ilhas – Faial, Graciosa, Pico, São Jorge e Terceira. Depois, no grupo Ocidental, o mais afastado da Europa, temos as ilhas do Corvo e Flores. Finalmente, no grupo Oriental, estão Santa Maria e São Miguel.

Independentemente da ilha que visitar, seja ela a mais pequena de todas, Corvo, com apenas 17 quilómetros quadrados para 430 habitantes – um número retirado do Censos de 2011 – ou a maior, São Miguel, com 744 quilómetros quadrados e 137 mil habitantes, é certo e seguro que o visitante vai regressar com recordações que guardará para toda a vida. E boas recordações.

Os Açores não são apenas a Natureza, tão presente, tão nua e crua, mas são também pessoas, as suas tradições e gastronomia. E ainda a arte, a cultura e a história. E as suas histórias, muitas, que se escondem nas pedras dos Açores. Uma dessas histórias místicas e perdidas no tempo remonta à lenda da Atlântida, a civilização perdida no meio do Oceano Atlântico, cuja verdadeira existência é apenas uma suposição, uma especulação.

Capelinhos

O filósofo grego, Platão, falou da Atlântida, mas até mesmo ele disse que foi algo que lhe contaram. A Atlântida seria uma terra rica, com templos cobertos de ouro e onde a terra seria tão fértil que permitia duas colheitas por ano. A sociedade estava bem organizada e as pessoas viviam em harmonia num paraíso terrestre, onde era estimulado o saber e as artes. Esse mundo ideal, até com avanços tecnológicos, teria desaparecido tragicamente na sequência de uma catástrofe natural. E muitos atlantes escaparam para outros países onde acabaram por ser assimilados pela cultura local, desaparecendo para sempre a memória física dessa cultura.

Só que, diz a lenda, as nove ilhas dos Açores são os picos da antiga Atlântida, submergida no oceano. Essa lenda inspira quem a visita porque, no fundo, o sentimento humano é o dessa aspiração entre um mundo perfeito em simbiose entre a natureza e o ser humano. E, nos Açores, quase que nos sentimos tentados a acreditar que tal pode ser possível.

Por exemplo, nos anos 50, o autor belga de banda desenha Edgar Pierre Jacobs, criador das aventuras de Black e Mortimer – que eram então publicadas na revista “Tintin”, a personagem criada por Hergé -, criou a aventura “O Enigma da Atlântida”. As suas personagens chegam ao aeroporto, como qualquer um dos nós, para viverem uma aventura na ilha de São Miguel, onde acabam por descobrir a entrada para um mundo subterrâneo que os leva ao mundo habitado pelos atlantes.

Quem sabe o que poderá acontecer a si, que chega agora aos Açores? Não se preocupe se não encontrar a porta para um mundo subterrâneo – aliás, até aconselhamos a não arriscar andanças por terrenos desconhecidos, quando há muito para descobrir à superfície, mesmo à frente dos nossos olhos. Aprecie as caminhadas pelas paisagens verdejantes, delicie-se com a gastronomia. Quer sugestões sobre o que comer? Nada mais fácil. Aprenda a dizer estes nomes em português: “Lapas e Cracas”, mais do que peixe – que é ótimo, sobretudo o atum -, estes petiscos típicos são para ser degustados grelhados e com sumo de um limão.

A cerveja é a sua melhor companhia. Depois, olhe para a paisagem e vai ver que há um animal que não falta. Sim, são as vacas que vivem felizes nas ilhas. Se não é vegetariano por convicção, o bife dos Açores é um alimento natural que faz parte do ciclo da vida.

Viajar até aos Açores e não provar o bife fará com que a viagem fique incompleta. Não deixe também de provar o queijo, sobretudo o da ilha de São Jorge, outra especialidade local.

Sobre a história do arquipélago, diga-se que a presença portuguesa nes – tas ilhas data do ano de 1444, mais concretamente no dia 29 de setembro, em que foi constituída uma capitania, comandada por Gonçalo Velho Cabral. Esse era o dia dedicado ao arcanjo São Miguel, daí a origem do nome da ilha principal.

A outra ilha do grupo Oriental, Santa Maria, terá sido a primeira de todas a ser descoberta pelos marinheiros portugueses e foi aí que Cristóvão Colombo aportou, em fevereiro de 1493, na viagem de regresso a Espanha após a descoberta das terras que hoje conhecemos como “América”. Este sentimento de atlante, jangada de pedra fixa no mar, teve ainda uma especial importância histórica durante a Segunda Guerra Mundial, em que a Europa encontrou nos seus aliados da América uma alternativa para os valores da democracia e da construção de caminhos para a Paz. E foi nos Açores que se desenvolveram esses esforços e que, ainda hoje, se traduzem na presença de uma base militar norte-americana, no grupo Central, na ilha Terceira.

As viagens entre as ilhas podem ter lugar por ar ou mar, mas há ainda uma última sugestão – e tantas que ficaram de fora – que é a de conhecer a ilha do Pico, local onde se encontra o ponto mais alto de Portugal. Para além de ser a segunda maior ilha dos Açores, com 447 metros quadrados, é nesta ilha que temos a montanha do Pico, com 2.352 metros acima do mar. No território de Portugal Continental, a mais alta montanha, na Serra da Estrela, tem “apenas” 1993 metros. Aqueles 358 metros a mais fazem toda a diferença. Acreditem que sim. Desfrute dos Açores. Eles sempre estiveram lá para um dia o saudar.