Se Lisboa é a capital de Portugal, foi o Porto que deu o nome ao país. Os cerca de 300 quilómetros que dividem as duas principais cidades portuguesas têm História e histórias únicas que definem bem a personalidade de cada uma. Fique a conhecer a origem de ambas.
Diz-se que no Porto trabalha-se enquanto em Lisboa diverte-se. Só isto seria suficiente para definir uma e outra cidade, mas o certo é que, tanto numa como noutra, trabalha-se muito para garantir que o visitante se possa divertir.
Entre ruas rodeadas de charme, restaurantes com comida de qualidade, ofertas culturais para todos os gostos e locais de diversão, Lisboa e Porto partilham raízes históricas que as transformam, ao mesmo tempo, em cidades complementares.
Uma viagem a Portugal sem a visita a estas duas cidades, nunca será uma viagem completa. Lisboa, a capital, é, acima de tudo, uma das cidades mais antigas do mundo.
Com cerca de 1200 anos de existência Antes de Cristo, só Atenas, na Grécia, será a mais antiga das capitais da Europa. A origem do nome, por exemplo, perde-se nos tempos, tendo sido necessário inventar lendas ou especular sobre a real origem do nome Lisboa. Uma dessas lendas evoca inclusive o Antigo Testamento.
Conta-se que Elisá, bisneto de Noé, chegou a estas paragens 278 anos após o grande dilúvio. Elisá teria navegado pelo Mediterrâneo até ao Atlântico, onde fundou a cidade que hoje se chama Lisboa, sendo essa a origem do topónimo.
Mas, a história que provavelmente mais ouvirá nas ruas da cidade é aquela que menciona Ulisses, o rei de Ítaca e herói mitológico grego, protagonista da “Odisseia” de Homero. Diz-se que, após a destruição de Tróia, Ulisses teria visitado uma cidade então conhecida como Ofiúsa, a “Terra das Serpentes”. Era aí que vivia a rainha das serpentes, representando sedução e perigo ao mesmo tempo. Quem ousasse entrar nestas terras, era seduzido e desaparecia para sempre. Quando o viajante chegou, vindo do mar, navegou no rio Tejo e encontrou a rainha de Ofiúsa, que depressa se apaixonou pelo herói grego. A rainha seduziu-o com a proposta da criação da mais bela cidade do Universo à qual seria dada o seu nome: Ulisseia ou Olissipo. Mas, Ulisses não quis ficar e partiu pelo coberto da noite.
Quando a rainha descobriu que fora abandonada, serpenteou furiosa pelo rio fazendo tremer a terra. Diz-se que foi assim que nasceram as sete colinas de Lisboa.
Existe hoje um painel de azulejos moderno – data de 1996 -, da autoria do artista simbolista português, Lima de Freitas, que evoca esta lenda. Pode ser apreciado no átrio que faz a ligação entre a estação de comboios do Rossio e o metro dos Restauradores.
Mas, lendas à parte, a versão mais lógica sustenta que o nome da capital portuguesa tem origem na presença dos fenícios. Povo de marinheiros e comerciantes, oriundos do Mediterrâneo, ao entrarem no Atlântico através do estreito de Gibraltar, subiram para Norte ao longo da costa. Aí, chegaram à foz de um rio onde, após passarem uma zona onde as margens eram mais próximas, encontraram um enorme estuário. É hoje aquilo que se chama de Mar da Palha, o mais largo estuário da Europa, onde se encontra a Ponte Vasco da Gama que, com os seus doze quilómetros, é a mais longa ponte da Europa. Na margem Norte do rio há uma elevada colina, onde se encontra hoje o Castelo de S. Jorge.
Do alto da colina oferecia-se uma vista ampla, permitindo garantir a segurança dos primeiros habitantes, que conseguiam antecipar movimentos de inimigos. Na encosta Sul da colina, descendo para o rio, havia água potável. Mais tarde, os mouros chamaram-lhe Alfama, em referência às águas termais. Os fenícios chamaram a este sítio “Alis Ubbo”, que significa “Porto Seguro” ou “Enseada Amena”. É a nossa Lisboa de hoje.
Depois dos fenícios, vieram os romanos. E ainda há vestígios dessa época. O visitante pode observar as ruínas do Teatro Romano, na Rua da Saudade. A própria Sé Catedral de Lisboa, obra do Séc. XII, tem vestígios romanos e, no subsolo da Baixa, existem vestígios do período romano.
Na Rua Augusta, por exemplo, a Fundação Millennium também está aberta ao público para visitas às suas fundações com mais exemplos do tempo do Império Romano.
A praça do Rossio ainda hoje exibe uma forma oval já que seria aí que havia um hipódromo para corridas de cavalos. Lisboa era então uma cidade pujante e importante entreposto comercial de abastecimentos das tropas romanas entre Roma e a Grã-Bretanha. Recebeu mesmo o nome de “Felicitas Julia Olissipus”, a felicidade de Júlio Cesar.
Mas, Portugal ainda não existia com este nome. Chamava-se Lusitânia e pertencia à Ibéria, abrangendo ainda parte do atual território de Espanha. Os cidadãos eram conhecidos como os Lusos.
Ora, após a queda do Império Romano, houve na Península Ibérica, entre os anos 418 e 711 da nossa era, o chamado Reino Visigótico. Até que o último rei visigodo, Rodrigo, foi derrotado pelo general muçulmano Tarik, na Batalha de Guadalete, nas proximidades de Cádiz, a 31 de julho de 711. A ocupação muçulmana durou até ao Séc. XII, altura em que surge D. Afonso Henriques, aquele que será o primeiro rei de Portugal. Nascido a 25 de julho de 1109, na cidade de Guimarães, no Norte de Portugal, Afonso Henriques era filho de D. Henrique, Conde de Portucale – que tem origem no nome “Portus Cale”, onde está hoje a cidade do Porto.
O pai daquele que veio a ser o primeiro rei de Portugal era oriundo de uma linhagem Nobre, pois descendia do rei Roberto II de França que, por sua vez, descendia do Rei dos Francos, Hugo Capeto. A mãe de Afonso Henriques, Teresa de Leão, era filha ilegítima do Rei Afonso VI de Leão e Castela. Situa-se então aqui a origem oficial do nome Portugal, na antiga “Portus Cale” e ainda hoje a única cidade no mundo que se chama apenas “Porto”, sem nenhum outro qualificativo. É apenas Porto e ponto final.
Foi no ano de 1139 que D. Afonso Henriques, após a vitória na Batalha de Ourique, a 25 de julho, dia do seu aniversário e também dia de Santiago, armou-se a si próprio como o primeiro Rei de Portugal. Quatro anos mais tarde, a 5 de outubro de 1143, Afonso Henriques assinou com o primo, Afonso VII de Leão e Castela, o Tratado de Zamora, que marcou a independência definitiva do novo País.
E, finalmente, quatro anos depois, em outubro de 1147, o rei de Portugal chegou às portas de Lisboa, ainda ocupada pelos mouros. A tomada de Lisboa contou com a ajuda de cruzados ingleses, escoceses, flamengos, normandos e alemães que, a caminho de Jerusalém, tinham feito escala no Porto devido ao mau tempo.
Com o passar do tempo, devido à sua localização estratégica a meio de Portugal, dominando o Atlântico e beneficiando de condições naturais para o comércio e grandes navios, Lisboa vai-se tornando uma cidade cada vez mais importante, sobretudo quando começa a expansão Marítima portuguesa a partir do Séc. XVI.
Com a capital em Lisboa, o Porto fica com o título de segunda cidade e capital do Norte. Mas, será ainda no início do Séc. XIX, que o Porto acrescenta o título de cidade “Invicta”, por ter resistido ao cerco montado na sequência da guerra civil de 1832-34.
Existe ainda hoje uma assumida rivalidade histórica entre Lisboa e Porto. Como vimos, isso vem de longe. No entanto, ainda bem que assim acontece, pois ambas cidades lutam sempre por agradar ao visitante. Assim, graças à rivalidade, estão sempre a inovar e todo o mundo acaba, deste modo, por beneficiar de Lisboa e Porto!