Passageiro Frequente: Nuno Costa Santos

Nome: Nuno Costa Santos
Profissão: Escritor e guionista
Naturalidade: Lisboa, 1974
Idade: 45 anos

O nosso passageiro frequente é o escritor e guionista Nuno Costa Santos, que, apesar de ter nascido em Lisboa, em 1974, viveu os primeiros anos da sua vida nos Açores, mais precisamente na ilha de São Miguel. Hoje, a sua vida continua a ser entre Lisboa e os Açores. É escritor e guionista para cinema, dramaturgo, autor de programas radiofónicos e televisivos. O humor é uma das suas características marcantes, com destaque para o trabalho “Melancómico”. O primeiro romance, “Céu Nublado Com Boas Abertas”, foi editado em 2016 e demonstra bem como estamos perante alguém que ama os Açores. É ainda colaborador permanente da revista literária Ler, onde assina o espaço provedor do leitor (ou como fazer amigos na literatura).

Para Nuno Costa Santos, os Açores são um caso de “amor”. Nasceu na capital de Portugal, mas a terra que diz amar é aquela onde começou a crescer. E admite que a sua vida teria sido diferente se não fosse ele um “produto” do imenso mar azul. Talvez um dia acabe por se estabelecer permanentemente no arquipélago, mas sempre com a possibilidade de partir e regressar. No fundo, assim nunca mais deixará de ser um verdadeiro “passageiro frequente”.

Até que ponto ser natural dos Açores marca a sua personalidade? Acha que a sua vida teria sido diferente caso tivesse nascido noutro local de Portugal?
Os Açores marcam o imaginário de qualquer pessoa que se forme no seu território. E não falo só de paisagem, esse solo transcendente de todas as experiências primeiras, que nos ficam para toda a vida. Não falo só do mar, que quando fica longe torna qualquer açoriano desorientado, muitas vezes sem saber porquê. Falo também em valores e em carácter. Há diferenças entre as ilhas, mas há um núcleo identitário comum, o da têmpera. Muitas vezes, quando me vejo em apuros no território abstrato de Lisboa, penso no azul do mar alto açoriano e consigo acalmar.

É difícil ser humorista em Portugal?
Começo por dizer que não sou humorista. Uso o humor na minha escrita. Isso é diferente.
Os ingleses têm uma palavra boa para designar o que pratico: wit. Wit à minha maneira, que passa muito por ir polvilhando os textos de curtas sabotagens humorísticas. Se isso é difícil sob o ponto de vista da receção? Posso dizer que tenho um público adepto do registo. Em todo o caso, estou consciente de que em Portugal o humor dominante é o do “malhanço” nos poderes, à semelhança do que fez o mestre Gil Vicente [dramaturgo português do Sec. XV]. Cansa-me, admito, esse tom, até porque acho que de – vemos rir-nos primeiro das nossas fragilidades antes de atirar pedras satíricas aos outros.

Melhor recordação de uma viagem aos Açores?
Não é fácil. Mas escolho uma, recente. O facto de, no Ilhéu das Cabras, na Terceira, ter avistado, numa experiência subaquática, um par de raias. Apaziguou-me. Há uns anos adormecia a imaginar o fundo do mar e a sua bicharada. Aquelas raias, serenas como um mestre budista, serenaram-me e deram-me vontade de ter experiências semelhantes.

Com que frequência vai aos Açores e costuma ir acompanhado ou sozinho?
Hoje em dia, vivo entre os Açores e o continente. Ao longo dos últimos dez anos tenho desenvolvido uma série de projetos nos Açores, que me permitem que esteja entre o arquipélago e a ilha lisboeta. Claro que isto deverá culminar com o meu estabelecimento definitivo nos Açores, a terra que amo e onde me realizo. Sempre com a possibilidade de sair. Possibilidade e dever. Tenho vários projetos em Portugal Continental, muitos deles relacionados com documentários que me obrigam a ir lá. E, mais importante do que tudo, tenho filhos que vivem em Lisboa. Gostava que um dia viessem viver para os Açores. Um deles é adepto do Santa Clara.

Uma altura em que é mesmo importante – ou desejaria mesmo muito – estar nos Açores?
O verão, essa estação em que há como que uma suspensão do tempo. Enumero os prazeres estivais: mergulhos no calhau (sou pouco de praia) e as conversas que se prolongam em casa dos meus pais ao almoço e ao jantar. Pomos a conversa em dia, falamos de política, de sociedade, de costumes, debatemos, rimo-nos, divergimos e concordamos. E bebemos um bom vinho.

O que leva na mala quando viaja para os Açores?
Levo a roupalhada toda necessária, com alguns esquecimentos ocasionais em termos de roupa interior. E levo livros que não acabei. E a vontade de pisar os meus lugares, na minha ilha e nas outras ilhas açorianas. Estou cada vez mais “açoriano universal”. Ou seja: não me tenho bastado com a ilha de São Miguel. Sinto-me em casa em todas as ilhas.

O que leva na mala quando viaja a partir dos Açores?
Quando viajo a partir dos Açores levo sempre bolos lêvedos e livros novos de autores açorianos. Ambos dão bons repastos quando se está longe de casa.