
Há pessoas que se tornam verdadeiras imagens de marca de uma empresa. É o caso de Laureano Almeida.
Contratado para a SATA a 1 de maio de 1957, realizou um impressionante e dedicado percurso como Técnico de Manutenção de Aeronaves, num contexto temporal em que o mundo da aviação despertava um fascínio ainda maior que o de hoje.
Passado um ano de estágio, no Aeródromo de Santana, foi convidado para ficar na SATA e aceitou, o que considera hoje uma das decisões mais inteligentes da sua vida.
A aviação nos anos 50 tinha já uma ampla projeção a nível mundial, mas o Aeródromo de Santana apresentava, segundo ele, uma singularidade muito especial. A mistura entre as pastagens bucólicas, onde se praticava a agricultura, e a tecnologia dos aviões resultava num aeródromo verdadeiramente peculiar.
Laureano esteve presente, em 1941, na inauguração do Aeródromo de Santana. Ainda criança, lembra-se que as pessoas interrompiam o que estavam a fazer para contemplar as descolagens e aterragens dos aviões e do pó que este movimento aéreo deixava nas imediações.
A vida reservou-lhe a surpresa de, mais tarde, passar horas sem conta naquele lugar, que jamais irá esquecer.
Na sua altura, funcionavam neste aeródromo, que abria e fechava com o nascer e com o pôr-do-sol, quatro entidades: a Direção Geral de Aeronáutica Civil, a SATA com os seus catorze funcionários, a Meteorologia e o Destacamento Militar.
As suas três pistas em terreno relvado, cuja manutenção era feita por um considerável rebanho de ovelhas, propriedade do próprio aeródromo, constituíam o palco principal do “aerovacas”, como o apelidou a população local.
Empenhado e excelente trabalhador, Laureano Almeida foi, a certa altura, convidado para as tripulações, ou seja, para se sentar ao lado direito do comandante como “extra crew”, participando ativamente em alguns procedimentos de voo.
“A SATA era um encanto”, refere Laureano, acrescentando que no seu tempo “a SATA era grande demais para ser um aeroclube, mas pequena demais para ser uma companhia”.
Laureano lembra, de facto, com muito carinho o seu percurso na empresa a que deu tanto de si. Recorda com saudosismo episódios vividos nessa época de grande encanto, como as vezes em que os comandantes, de cockpit aberto durante todo o voo, olhavam para trás e pediam licença para descolar.
Recorda ainda um dos episódios mais bonitos que vivenciou num voo com origem na Base Aérea das Lajes, na ilha Terceira, com destino ao Aeródromo de Santana, na ilha de São Miguel, no qual embarcou uma noiva de vestido e véu.
“Por ter de fazer registo no diário de navegação ainda ali fiquei, atado à cadeira de pele cinzenta de costas pontiagudas, naquele pequeno e apertado espaço que respeitosamente considerava um santuário por me levar mais perto do céu e de Deus. Olhando pela janela via aquela noiva feliz descer em direção ao terminal, tão firme e tão segura como uma pomba branca a experimentar as asas. Linda a minha terra onde, por amor, vão noivas de ilha em ilha para casar”.
São os testemunhos vivos, como o de Laureano Almeida, que nos fazem imaginar o glamoroso decorrer da operação aérea da SATA nos seus primórdios. Era uma época de grande deslumbramento, mas também de árduo trabalho e dedicação num ambiente familiar. Orgulhosos, todos nós, de prosseguir e usufruir deste legado e continuar a sua história.