Valter Hugo Mãe

Discurso profundo. Um homem-mãe que procura homenagear o universo feminino na sua escrita. Valter Hugo Mãe, um dos escritores mais reconhecidos e premiados da atualidade em Portugal e no mundo.

Odeia as manhãs. A conversa decorre, por isso, depois do almoço. Valter Hugo Mãe assume que tem cada vez mais manias, que tenta combater. Escreve sempre ao computador, mas tem num caderno de capa dura, no qual toma notas, assenta ideias e faz desenhos, a sua rede de segurança. O tempo da sua escrita decorre, normalmente, entre as 15 até às 23 horas, em lugares quietos e sem interrupções. Mas este momento sagrado é antecedido de “uma limpeza mental”, sempre ao som do compositor Johann Sebasti-an Bach. Como costuma dizer, “é preciso fazer um aquecimento prévio como numa maratona”.

Escritor de sucesso, com obras traduzidas em diversas línguas, Valter Hugo Mãe já viajou literalmente pelos quatro cantos do mundo. A sua escrita merece especial acolhimento em países como o Brasil, Ale-manha, Espanha, França e Croácia. Mas há viagens mais marcantes do que outras. À Islândia, foi à procura de perceber a solidão. Para ir aos Açores é preciso ser capaz de “suportar a robustez de se ser quem é”. Convoca estes dois destinos por serem os lugares no mundo que mais ultrapassaram o que poderia espe-rar, ou seja, uma natureza mágica e um encontro consigo mesmo. À espera de oportunidade está a via-gem dos seus sonhos: Índia. Apesar de não saber explicar o fascínio, sente que ficará rendido.

Pouco dado a embarcar no que vê os outros fazerem, Valter Hugo Mãe assume que tem uma relação peculiar com a validação da vida. Considera a aceitação e a capacidade de gostar dos outros grandes desafios da humanidade. Talvez por isso fomente e reclame o elogio. Isto não significa “viver no puro deslumbre, nem na bajulação”, explica o escritor, porque “o que vale é o mérito”. Entende que elogiar é mais corajoso do que atacar. Sente pena que nas atuais famílias pais e filhos não consigam ter manifestações de carinho assumidas.

Começou por escrever poemas, passou depois para os contos e romances. Os livros são os filhos que Valter Hugo Mãe não tem. Cada obra merece-lhe, por isso, “a utopia do cuidado ilimitado”. Espera que cada novo livro seu seja revelador, importante para a sociedade, que possa gerar no público um afecto semelhante ao que os pais sentem pelos seus filhos. Para Valter Hugo Mãe, os livros são mais do que palavras e histórias. Trazem muito do seu autor: “escrever um livro é um ato de intimidade profunda”.

Licenciado em Direito, com uma pós-graduação em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea, gostaria de fazer um doutoramento em Filosofia. Neste momento, está a ler a obra do filósofo português Sousa Dias, que recupera a ideia de política.

No final deste ano será publicado um novo romance de Valter Hugo Mãe. Apesar de várias hipóteses, a obra ainda não tem um título definitivo. A história decorre no Japão antigo e mais não revela o escritor.

 

Texto: Ruben Medeiros