O primeiro voo comercial da SATA a Lisboa

Contrariamente ao que se julgava, até muito recentemente, o primeiro voo comercial da SATA a Lisboa não foi realizado em DC-6, aquando da greve da TAP, mas sim num Avro.

Só seria considerado que o primeiro voo fosse em DC-6, se se considerasse que a classificação de voo comercial abrange, exclusivamente, o transporte de linha, efetuado em regime regular, ou não regular (operado, por exemplo, em regime de IT), com exclusão de outros (no caso, os voos fretados por entidades particulares). Ora, nessa ótica, só os voos de substituição (como foram os da SATA, realizados em DC-6), ou os subcontratados (por operadores turísticos, designadamente) mereciam a qualificação de voos comerciais.

Afastado tal critério, por nos parecer falho de sentido, havemos de convir que o primeiro voo comercial da SATA a Lisboa, embora fretado por um particular, teve lugar na noite de 30 para 31 de maio de 1975, para evacuação médica de uma paciente acometida de acidente vascular cerebral grave. Este episódio e o feito de quem o protagonizou foram noticiados na altura, embora sem enlevo, dadas as circunstâncias dramáticas em que o voo ocorreu, também, devido à natureza do mesmo (transporte aéreo não regular).

A aeronave (CS-TAH), tripulada pelos irmãos Rego Sousa (Adelino e José), efetuou várias transições de voo durante o percurso devido a problemas de de-icing nas asas.

Nesse avião, e para prestar cuidados especializados à paciente durante o voo, viajou o conhecido médico micaelense, Dr. Henrique de Aguiar Rodrigues. Segundo nos relata este prestigiado médico, em artigo publicado na imprensa local, a situação era desesperada e, perante a inexistência, à data, da especialidade de neurocirurgia no Hospital de Ponta Delgada, foi decidida a evacuação da doente para Lisboa.

Os dados que conseguimos apurar sobre esse voo, através de registos anteriormente existentes no museu da TAP, são os seguintes: PDL-SMA-LIS (30/05/1975) 21:0421:30-21:5501:35; LIS-SMA-PDL (31/05/1975) 13:50-18:00-18:25-18:50 (as horas são de partida e chegada aos calços). A escala efetuada em Santa Maria foi de reabastecimento.

Anteriormente à data da realização deste voo, a SATA efectuou alguns voos turísticos e de apresentação de aeronaves no exterior, caso concreto de voo de demonstração efetuado pelo G-AVRR (HS-748) à Madeira, a 22 de fevereiro de 1969, e que divergiu para Las Palmas, sob mau tempo. Neste voo, seguiram alguns agentes de viagens, bem como funcionários da SATA e de outras companhias aéreas com representação nos Açores, incluindo o Cte Francisco Afonso, que acompanhou, no cockpit, a tripulação navegante técnica, de origem inglesa, que viajou com o avião.

É, deveras, impressionante o relato que o Cte Afonso nos faz da aproximação (falhada) desta aeronave à pista 24 (1600x45m, inaugurada a 8-7-1964) do então designado Aeroporto de Santa Catarina, sob o comando de Stewart Greaves, piloto da Hawker Siddeley. Quis o destino que esta aproximação fosse prenúncio de muitas outras, efetuadas em condições metrológicas também muito adversas (mas sempre em segurança), pelo inefável Avro 748, nos Açores, ao longo de mais de duas décadas ao serviço da SATA.

Texto adaptado de Ermelindo Peixoto